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Crítica do filme: O sequestro do voo 375

Atualizado: 15 de jan.

★★★★☆ | A história está bem amarrada no roteiro, e os diálogos são críveis, transmitindo a urgência e o desespero da situação


Crítica do filme: O sequestro do voo 375
Divulgação / Star Distribution Brasil

Desde os primeiros minutos, "O Sequestro do Voo 375" se apresenta como um filme pulsante e carregado de tensão. Lançado em 19 de outubro de 2023, este longa-metragem dirigido por Marcus Baldini e roteirizado por Lusa Silvestre e Mikael de Albuquerque, traz uma narrativa que prende a atenção do espectador do início ao fim. Com quatro estrelas na minha avaliação, o filme possui seus altos e baixos, mas, em sua essência, é uma experiência cinematográfica impactante.

 

Baseado em um evento real que chocou o Brasil em 1988, o filme se passa durante o Governo Sarney, um período de turbulências econômicas e sociais. A história segue Nonato (interpretado por Jorge Paz), um homem comum que, desesperado por trabalho e frustrado com as adversidades do país, decide sequestrar o voo 375 da Vasp. O piloto Murilo, vivido por Danilo Grangheia, se vê na difícil posição de negociar com o sequestrador e evitar uma tragédia.

 

O roteiro, a fotografia e a direção são os pontos fortes do filme. As atuações, especialmente a de Danilo Grangheia e Jorge Paz, são notáveis, transmitindo a intensidade e a complexidade das suas respectivas personagens.

 

Baldini optou por uma abordagem quase documental, com narrações e imagens de arquivo do período, o que contextualiza bem a trama. Essa escolha, embora informativa, pode às vezes ofuscar as motivações mais profundas do protagonista.

 

Todavia, o filme se destaca por sua cinematografia envolvente. Com uma mistura de planos fechados e ângulos dinâmicos, a fotografia amplia a sensação de claustrofobia e tensão a bordo do avião sequestrado.

 

A história está bem amarrada no roteiro, e os diálogos são críveis, transmitindo a urgência e o desespero da situação. No entanto, a caracterização de Nonato poderia ser mais aprofundada, oferecendo um vislumbre maior de sua complexidade psicológica. Assim o filme peca ao não explorar suficientemente a história de Nonato. Sua complexidade é mais mencionada do que efetivamente mostrada, o que é uma oportunidade perdida para aprofundar a narrativa.

 

O filme vai além do entretenimento, levantando questões sobre desespero social e político. Baldini usa a história para refletir sobre um período conturbado da história brasileira, tornando o filme relevante mesmo décadas depois. Ele gera uma resposta emocional intensa, mas também deixa espaço para reflexão crítica sobre as condições que levaram ao evento real.

 

Marcus Baldini é um cineasta brasileiro conhecido por sua versatilidade e habilidade em capturar a complexidade da experiência humana através de suas obras. Entre seus trabalhos mais notáveis, destaca-se "Bruna Surfistinha" (2011), um drama biográfico que narra a vida de Raquel Pacheco, uma jovem que se tornou uma das prostitutas mais conhecidas do Brasil. Este filme foi aclamado por sua abordagem crua e sincera, ganhando destaque no cenário cinematográfico brasileiro. Além disso, Baldini dirigiu "Uma Quase Dupla" (2018), uma comédia policial que explora com humor a dinâmica entre dois detetives opostos forçados a trabalhar juntos. Esses filmes, juntamente com "O Sequestro do Voo 375", demonstram a habilidade de Baldini em transitar por diferentes gêneros, sempre mantendo um olhar atento às nuances dos personagens e às realidades sociais subjacentes às suas histórias.

 

"O Sequestro do Voo 375" é uma obra que fascina e envolve, apesar de suas falhas. A habilidade de Baldini em criar uma narrativa tensa e carregada de significados políticos e sociais é louvável. O filme merece ser assistido, não só como entretenimento, mas como uma janela para um momento histórico turbulento do Brasil, refletindo sobre o desespero humano em tempos de crise. Embora a história do sequestrador pudesse ser mais explorada, o filme, em geral, é uma adição significativa ao cinema brasileiro contemporâneo.


 

■ Por Richard Günter

Jornalista, pós-graduado em roteiro audiovisual e graduando de cinema.

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