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Crítica do filme: Nosso Sonho

Atualizado: 15 de jan.

★★★★★ | O filme não apenas conta a história de dois artistas fenomenais, mas também oferece uma visão íntima de suas vidas pessoais e da comunidade de onde vieram


Lucas Penteado e Juan Paiva no filme Nosso Sonho sobre Claudinho e Buchecha
Divulgação/Globo Filmes

Desde pequeno, uma parte significativa da minha infância foi embalada pelas músicas contagiantes de Claudinho e Buchecha, que ecoavam dos principais programas de televisão da época, como Domingo Legal com Gugu, Domingão do Faustão e Planeta Xuxa, além das rádios mais populares do Brasil. Cresci vendo esses ícones do funk melody se apresentarem, encantando o público com suas coreografias engraçadas e energia inconfundível. Portanto, quando soube do lançamento de "Nosso Sonho", a cinebiografia que contaria a história desses dois artistas extraordinários, minha expectativa estava nas alturas. Havia em mim uma mistura de nostalgia e curiosidade intensa para ver na tela grande a trajetória desses cantores que, de muitas maneiras, marcaram a trilha sonora da minha juventude e se destacaram no cenário musical brasileiro com uma presença tão única e memorável.


"Nosso Sonho" é um tributo cinematográfico excepcional à icônica dupla Claudinho e Buchecha, repleto de emoção, ritmo e uma profunda humanidade. O filme, dirigido habilmente por Eduardo Albergaria e roteirizado por ele e Daniel Dias, é mais do que uma cinebiografia; é uma viagem nostálgica e ao mesmo tempo contemporânea ao coração do funk melody brasileiro dos anos 90.

 

A narrativa, focada através dos olhos de Buchecha, traz uma autenticidade irrefutável ao enredo. O roteiro de Albergaria e Dias é notavelmente bem construído, oferecendo uma visão equilibrada e envolvente das alegrias e tristezas que permearam a jornada da dupla. A história flui de maneira orgânica, sem nunca perder o foco em seus personagens principais, enquanto desdobra a tapeçaria complexa de suas vidas, carreiras e o impacto cultural que tiveram.

 

Lucas Penteado e Juan Paiva, como Claudinho e Buchecha respectivamente, entregam performances extraordinárias, capturando a essência dos artistas não apenas em suas performances musicais, mas também em seus momentos mais íntimos e vulneráveis. A química entre eles é quase sensorial, recriando de forma convincente a união e a amizade que definiu a dupla.

 

O elenco demonstra uma profundidade e versatilidade incríveis, enriquecendo a narrativa com atuações memoráveis e autênticas. Tatiana Tiburcio, em seu papel como Dona Etelma, oferece uma performance emocionalmente carregada, transbordando com a sabedoria e a resiliência de uma mãe cujo amor e força são palpáveis. Nando Cunha, que fez recentemente o longa "Mussum: O Filmis", traz uma camada de humor e humanidade à trama, equilibrando perfeitamente a leveza e a gravidade. Clara Moneke, em sua atuação como Vanessa, captura a essência de uma jovem mulher marcada por uma força tranquila e uma presença magnética.


Já Antônio Pitanga, no papel de Seu Américo, entrega uma performance cativante que reflete a complexidade e a profundidade de um personagem crucial para a trajetória dos protagonistas. Isabela Garcia, como Dona Judite, brilha em sua habilidade de transmitir a sutileza das emoções, trazendo uma camada extra de calor e profundidade ao filme. Gustavo Coelho, interpretando Claudinho criança, destaca-se com uma performance que é ao mesmo tempo vulnerável e poderosa, capturando a essência do personagem com uma autenticidade impressionante. Cada um desses atores contribuiu de maneira significativa para o tapeçaria emocional e narrativa de "Nosso Sonho", elevando o filme a um patamar superior de excelência artística.


A direção de Albergaria é uma façanha em si mesma. Ele consegue manter um equilíbrio delicado entre a representação autêntica da vida e da cultura das favelas e a celebração do talento musical extraordinário da dupla. Sua visão traz uma textura rica ao filme, tornando-o visualmente cativante e emocionalmente envolvente.

 

A cinematografia do filme é outra de suas forças. Capturando a estética dos anos 90, ela evoca um sentimento de nostalgia que é ao mesmo tempo íntimo e abrangente. As cores, os ângulos e a iluminação são utilizados de maneira a acentuar as emoções das cenas, tanto nas performances explosivas quanto nos momentos mais silenciosos de reflexão.

 

O filme não apenas conta a história de dois artistas fenomenais, mas também oferece uma visão íntima de suas vidas pessoais e da comunidade de onde vieram. Através de "Nosso Sonho", somos transportados para um momento crucial na história cultural do Brasil, onde a música servia como um espelho para as alegrias e lutas de uma geração.

 

Embora não tenha sido selecionado para representar o Brasil no Oscar, perdendo para "Retratos Fantasmas" de Kleber Mendonça Filho, "Nosso Sonho" certamente permanecerá como um marco no cinema brasileiro biográfico, um lembrete poderoso do poder da música, da amizade e do sonho. É uma obra que não apenas celebra o legado de Claudinho e Buchecha, mas também enriquece a paisagem do cinema brasileiro contemporâneo.



 

■ Por Richard Günter

Jornalista, pós-graduado em roteiro audiovisual e graduando de cinema.

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