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Crítica da série: Fim

★★★★★ | Uma série que merece atenção pelo seu tratamento ponderado e artístico de temas universais, pela qualidade da atuação e direção, e pela forma como dialoga com o contexto histórico e social brasileiro


Elenco da série exclusiva do Globoplay: Fim
Divulgação/Globoplay

A série "Fim" gerou uma repercussão notável nas redes sociais, capturando a atenção do público com sua abordagem envolvente e profunda. Eu, pessoalmente, fui completamente cativado pela série, maratonando todos os episódios em apenas 3 dias. Foi o trailer de divulgação que primeiro chamou minha atenção e desempenhou um papel fundamental na minha decisão de assistir à série. O trailer, habilmente produzido, conseguiu encapsular a essência intrigante da trama e dos personagens, prometendo uma jornada emocional e intelectualmente estimulante. Esse primeiro contato visual com "Fim" foi, sem dúvida, um convite irresistível para mergulhar no universo criado por Fernanda Torres e transformado em imagens sob a direção de Andrucha Waddington.


A série, baseada no livro homônimo de Fernanda Torres, apresenta um retrato profundo e multifacetado da existência humana, tecendo uma narrativa que entrelaça passado, presente e futuro, vida e morte, amor e traição, casamento e separação. A série, exclusiva do streaming Globoplay, sob a direção sensível e assertiva de Andrucha Waddington e Daniela Thomas, destaca-se pelo seu roteiro impecável escrito por Maria Camargo e Fernando Rebello, inspirado na visão literária de Fernanda.

 

Com um elenco estelar que inclui Fábio Assunção, Marjorie Estiano, Débora Falabella, Bruno Mazzeo e outros, "Fim" oferece performances que capturam a essência da tragicomédia humana. A série se destaca por sua habilidade em balancear melancolia e resignação com momentos de leveza, amor e celebração, criando um mosaico representativo da vida cotidiana.

 

A série ganha uma camada adicional de profundidade ao se desenrolar em diferentes épocas da história do Brasil, desde os anos 1960 até os anos 90, integrando a trajetória dos personagens a eventos marcantes do país. Essa ambientação histórica não apenas enriquece a trama, mas também ressalta como as mudanças sociais e políticas afetam as vidas dos protagonistas de maneira significativa.

 

Composta por 10 episódios, a série demonstra uma habilidade notável em desenvolver sua trama de forma progressiva e envolvente. A cada episódio, a série aprofunda os elementos da narrativa, deixando o telespectador cada vez mais imerso e vidrado no enredo. Esta estrutura episódica permite um mergulho mais detalhado na vida dos personagens e nas complexidades de suas experiências, garantindo que cada capítulo acrescente uma nova camada à história, mantendo o público ansioso pelo próximo desenvolvimento. Essa progressão bem planejada é um dos pontos fortes de "Fim", assegurando que a série não apenas conte uma história, mas também crie uma experiência cumulativa e profundamente impactante para o espectador.

 

Um dos aspectos mais louváveis de "Fim" é o destaque dado às personagens femininas. Enquanto o livro de Fernanda Torres se aprofunda na crise da masculinidade, a adaptação da série oferece um espaço considerável para as mulheres na vida desses homens, adotando uma perspectiva decididamente feminista. Marjorie Estiano e Débora Falabella, por exemplo, entregam atuações notáveis, respectivamente, como Ruth e Irene, trazendo camadas complexas às suas personagens.

 

Falando na Marjorie Estiano, a atriz que dá vida à Ruth é um verdadeiro destaque em um elenco repleto de talentos. Sua interpretação brilhante da personagem, que carrega consigo um segredo avassalador até o último episódio, é uma prova de sua versatilidade e profundidade como atriz. Começando sua carreira em "Malhação" como Natasha, integrante da banda Vagabanda, Marjorie rapidamente evoluiu para papéis cada vez mais desafiadores e complexos. Entre suas atuações memoráveis, destacam-se protagonistas em novelas como "Império" e "A Vida da Gente", séries como "Sob Pressão", e filmes como, “Boas Maneiras”, "Entre Irmãs" e "Beatriz".

 

Sua habilidade em capturar a essência de cada personagem lhe rendeu o reconhecimento como "Melhor Atriz de Série" no Prêmio Melhores do Ano do Domingão com Hulk, com a série “Fim”. Marjorie é, sem dúvida, uma das atrizes mais versáteis do Brasil. Sua capacidade de entregar performances que tocam o coração e a mente do público é tão impressionante que, se ela concorresse a um Oscar, muitos acreditam que ela teria grandes chances de levar o prêmio para casa.

 

Fernanda Torres, a mente por trás do livro que deu origem à série "Fim", é uma figura multifacetada no cenário cultural brasileiro. Além de sua habilidade como escritora, evidenciada em obras como "Fim" e "A Glória e Seu Cortejo de Horrores", Torres é amplamente reconhecida por sua carreira excepcional como atriz no cinema, no teatro e na televisão. Seus personagens memoráveis incluem a Maria de "Casa Grande & Senzala" e a protagonista em "Eu Sei Que Vou Te Amar", papel pelo qual recebeu o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes. No teatro, destacou-se em produções aclamadas, como "A Casa dos Budas Ditosos". Na televisão, suas atuações em novelas e séries, como "Os Normais" e "Tapas & Beijos", conquistaram o público com um misto de carisma e versatilidade. Sua transição para a literatura e a contribuição subsequente para a teledramaturgia apenas ampliam seu legado como uma das artistas mais talentosas e influentes do Brasil.

 

Em resumo, "Fim" é uma série que merece atenção pelo seu tratamento ponderado e artístico de temas universais, pela qualidade da atuação e direção, e pela forma como dialoga com o contexto histórico e social brasileiro. É uma obra que vale a pena assistir, independentemente de se ter lido o livro ou não, pois oferece uma experiência rica e emocionalmente envolvente.



 

■ Por Richard Günter

Jornalista, pós-graduado em roteiro audiovisual e graduando de cinema.

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