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MP3: O ARQUIVO QUE NÃO INTIMIDA OS COLECIONADORES

| Mesmo com a facilidade do downloads, público selecionado ainda compra CDs com frequência



Criado no final dos anos 80, o mp3 revolucionou a mídia sonora. A partir dele foi possível copiar o som de um k7, LP e CD sem perder qualidade e melhor, com a possibilidade de enviar o arquivo para o outro lado do mundo com apenas um clique. Anos mais tarde a invenção bombástica traía a indústria fonográfica, pois a procura aumentava cada vez mais e sem controle de distribuição, via download free, as gravadoras consolidaram drasticamente a queda na venda de CDs. Surgem então, os sites específicos de vendas online para evitar a pirataria virtual, mas até hoje, a crescente venda não gera porcentagens suficientes para acreditar que a vida sonora legalizada está em alta. Tendo em vista a grande troca do produto físico pelo digital, ainda existem os amantes que não se entregaram a nova era, aqueles que fielmente ainda colecionam os CDs.


No Brasil, a venda de CDs caiu em quase 70% no início da década de 2000. A decrescente porcentagem está ligada diretamente a elevação dos usuários da internet, que por sua vez fazem gratuitamente downloads das músicas de seus artistas preferidos. Fazendo com que o interesse pelo produto físico caia. Após esses episódios, a indústria fonográfica encarece o produto físico, por conta da baixa procura pelos álbuns. Nos anos 90’, em média um CD continha 14 faixas musicais e custava cerca de R$19,90. Após a queda, os CD’s passaram a ter em média 12 faixas e saltaram para R$29,90. De acordo com a assessora de comunicação das Lojas Americanas, Anelise Medeiros, o público não deixou de consumir música, ele apenas encontrou um novo caminho com mais comodidade. As bandas populares que possuem sucessos a prazo de validade, continuam vendendo no comércio. Já os clássicos vendem em minoria, mais por um tempo muito maior, afirma Anelise.


Apesar da baixa procura pelo CD, o público que coleciona o produto físico ainda busca seus lançamentos e raridades, tanto em lojas convencionais, quanto em lojas específicas de usados e/ou semi-usados. Mesmo tendo em vista o apreço pela mídia, os colecionadores também apreciam a mídia digital, pois a partir delas eles podem carrega-las com maior comodidade para diversos lugares. Ao contrário do CD, que é necessário um discman, no qual ocupa o triplo do tamanho de um aparelho mp3 e a bateria dura muito menos. De toda forma, o amor pelas coleções não muda. Em uma entrevista exclusiva, o colecionador Rafael Martins, de Porto Alegre, que trabalha na Livraria Cultura, nos revela sua intimidade com seus inseparáveis CDs.


BATE PAPO

Qual foi teu primeiro álbum adquirido? Quantos anos tinha? Qual foi o último? Comecei a comprar CDs quando tinha 16 anos, o primeiro que eu comprei foi o Immaculate Collection da Madonna. O mais recente foi do Robin Thicke (Blurred Lines).


Quando você se deu conta de que era um colecionador? Não lembro quando me dei conta que tinha virado um colecionador, acho que foi quando mandei fazer a minha primeira estante, isso eu devia ter cerca de 300 CDs. Acredito que depois que comecei a trabalhar na Livraria Cultura, por ter acesso a um número maior de artistas e gêneros, acabei virando um consumidor em potencial de CDs, e por ter um gosto bem variado, acaba que sempre tem coisa pra comprar, seja lançamento ou mesmo discos de catálogo.


Quantos CDs você tem atualmente? Hoje eu tenho pouco mais de 1800 CDs. Fora isso, tenho mais de 300 discos de vinil. Mas a minha mídia favorita é o CD.


Em média, quanto você gasta mensalmente com cds? Bem, eu compro em média uns 10 títulos por mês, depende. Dá pra calcular uns 250/300 reais por mês.


Você procura apenas CDs novos ou recorre aos sebos? Quando comecei a comprar CDs eu sempre queria discos novos e lacrados. Com o passar do tempo, percebi que o catálogo brasileiro é muito pobre, discos essenciais deixam de ser produzidos muito rapidamente. Aí você tem que recorrer aos importados ou ainda aos sebos. Hoje adoro sair catando CDs em sebos, só não curto muito quando tem coisas escritas nos encartes ou quando a mídia está muito arranhada. Sempre coloco o CD usado em uma caixinha acrílica nova, assim melhora muito o seu aspecto.


O que você mais gosta no CD? A produção musical, a embalagem, o encarte? Acho que é uma soma de tudo. O que não gosto são os chamados “digi-packs”, pois com eles o cuidado tem que ser redobrado, uma vez que a embalagem não pode ser substituída. E hoje em dia grande parte dos títulos são lançados neste formato. Quando o artista lança as duas opções eu sempre escolho a que tenha caixa acrílica, mesmo que esta venha com menos músicas.


Algum destaque para as embalagens diferenciadas? (Edições limitadas) Bem, eu não sou muito ligado em edições especiais ou limitadas. A minha coleção não é composta por raridades. O que eu mais prezo mesmo é a variedade. Por exemplo: Não costumo ficar com um mesmo título na estante, e muito raramente compro CD single. Caso saia alguma edição de um CD com faixas bônus, eu compro (se não for digi-pack, que eu odeio) e dou de presente a edição antiga. Isso porque o CD pra mim tem que ser funcional, ou seja, se vou ficar com ele é pq vou usá-lo. Mas um exemplo recente é a versão relançada do Teenage Dream da Katy Perry, com a capa holográfica. Apenas a primeira tiragem veio com essa capa, e como eu já tinha a primeira edição do disco, eu comprei essa nova e dei a antiga de presente, pois todas as músicas tinham na nova edição. A exceção neste caso foi com Thriller, do Michael Jackson. Tive que ficar com duas edições na coleção pois ambas continham faixas novas e diferentes, e uma delas ainda tem um DVD. Fora isso, os únicos casos de álbuns repetidos que tenho são aqueles que possuo o vinil também. E são vários os casos, aí dependendo do meu estado de espírito eu escuto o vinil a invés do CD.


Você consegue se desfazer ou trocar CDs? Nunca troco CDs porque por mais que eu deixe um pouco de escutar determinado artista, ele fez parte da minha história em algum momento. E sempre é bom lembrar o passado através das musicas que você ouvia. Tenho um apego sentimental com os meus CDs (coisa de colecionador). Pra mim o gosto musical só cresce, ou seja, eu não deixo de gostar de algum artista. Vejo muita gente falando "tenho vergonha porque eu ouvia isso" ou então "o meu passado musical me condena" mas eu não tenho isso. Claro que, como eu disse, tem coisas que você escuta mais e outras menos, depende da fase da tua vida. Apenas me desfaço daqueles CDs que tenho repetido, seja porque saiu uma edição "mais completa" ou aqueles que eu comprei em duplicidade, por ter achado com um preço barato. Eu faço isso direto, se vejo algum CD legal por um preço barato eu compro, mesmo que eu já tenha, para dar de presente.


O que você acha das edições vendidas apenas digitalmente? Você trocaria um álbum físico por um digital do iTunes? Em primeiro lugar, queria dizer que eu não tenho nada contra o mp3. Acho ele um facilitador em vários aspectos. Hoje em dia você pode conhecer músicas que nunca tocam no rádio em função do mp3 e da internet. Também adoro a comodidade, o fato de poder carregar toda a minha coleção no meu bolso com o iPod. A parte ruim, claro, é que uma parcela muito grande de pessoas acha que é normal você não pagar pela música que consome. É uma questão cultural, que varia muito de país para país. Aqui as pessoas tem essa mentalidade "por que vou pagar por um CD se posso tê-lo de graça?" - e o que é pior - acha estranho quem ainda paga pela música. Mas respondendo a tua pergunta, não vejo problema em edições vendidas digitalmente. Se eu tiver interesse, vou comprá-las. Claro que eu prefiro mil vezes o álbum físico. Acho o lance do iTunes legal para o lançamento de singles, pois eles saem antes do álbum. Já comprar um disco inteiro digital, não vale a pena para mim pois o preço cobrado é quase o mesmo de um CD original. Contudo, eu entendo quem prefere comprar o digital, pois hoje em dia muitas pessoas simplesmente não usam o CD. Ouvem suas músicas através do computador, celular, iPod, pendrive etc. Nesses casos, realmente o CD se torna inútil. Eu uso muito a mídia CD. Em casa eu só escuto música de CDs, acho a qualidade de som melhor.


Conte-nos uma curiosidade sobre tuas coleções. Pra mim é sempre uma função a hora de organizar os CDs. Acontece que eu coloco tudo em ordem alfabética, separados apenas entre artistas nacionais, internacionais, coletâneas e trilhas. Quando aparece na minha coleção um artista com a letra A, dá um baita trabalho colocá-lo no seu devido lugar... Por isso, eu tenho esperado juntar um número grande de CDs novos para enfim colocá-los na respectiva letra. Em média faço isso uma vez por mês, e perco pelo menos 1 hora. Outro fator curioso é a estante. Fiz uma nova ano passado, e achei que iria ficar um bom tempo sem me preocupar com espaço. Mas, esse pensamento foi equivocado. Percebi, então, que nunca vou ter a estante ideal, pois a minha coleção vai estar sempre em crescimento.

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