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Crônica: Se eu morresse hoje, alguém sentiria minha falta?

Atualizado: 2 de mar.

"É uma questão que, de certa forma, todos nós enfrentamos, uma reflexão sobre a marca que deixamos no tecido da vida, sobre as conexões humanas que tecemos, tão frágeis e ao mesmo tempo tão profundas"


Se eu morresse hoje, alguém sentiria falta de mim?

Se eu morresse hoje, alguém sentiria minha falta? Esta pergunta, carregada de uma profundidade existencial assombrosa, surge nos momentos mais inesperados, talvez enquanto observamos o crepúsculo que desenha sombras longas sobre o mundo ou no silêncio profundo que antecede o sono. É uma questão que, de certa forma, todos nós enfrentamos, uma reflexão sobre a marca que deixamos no tecido da vida, sobre as conexões humanas que tecemos, tão frágeis e ao mesmo tempo tão profundas.


A resposta, no entanto, não reside na quantidade de pessoas que chorariam a nossa partida, mas na qualidade dos laços que nos unem a elas. Pode ser que não sejamos lembrados por multidões, que não deixemos para trás obras monumentais ou recordações imortalizadas em mármore. Talvez nosso nome não ecoe pelos corredores da história, e os registros de nossa existência sejam discretos, conhecidos apenas por aqueles com quem compartilhamos nossos dias.


Mas, dentro desse círculo íntimo, cada gesto de bondade, cada palavra de amor, cada sorriso compartilhado tecem uma teia de memórias que, como um afago, suavizam a aspereza da existência. A presença, mesmo que efêmera, em uma vida alheia, pode ser uma fonte de conforto, um farol de esperança, uma lembrança de alegria. E talvez, na contabilidade final do universo, isso tenha um valor incalculável.


As marcas que deixamos não são feitas apenas de grandes feitos, mas também de pequenas bondades. Um olhar compreensivo, um ouvido atento, um abraço acolhedor. Estes são os verdadeiros legados, as verdadeiras heranças que deixamos. E por mais que duvidemos do nosso impacto no mundo, cada um de nós é um fio essencial na tapeçaria da existência humana, interligado e indispensável.


Portanto, se eu morresse hoje, acredito que sim, alguém sentiria minha falta. Talvez não fossem muitos, talvez não fossem estranhos ou conhecidos distantes, mas aqueles poucos cujas vidas toquei, mesmo que de maneira sutil, sentiriam. Eles lembrariam dos momentos compartilhados, das palavras trocadas, das pequenas alegrias e das grandes tristezas enfrentadas juntos. Sentiriam minha falta não porque fui extraordinário, mas porque fui presente.


A verdadeira medida de nossa existência talvez seja essa capacidade de tocar o coração dos outros, de deixar uma marca suave, mas indelével, na alma daqueles que amamos. E, ao contemplar essa interrogação sobre a morte e o esquecimento, podemos encontrar algum conforto na certeza de que, de alguma forma, permaneceremos vivos na memória e no coração daqueles a quem verdadeiramente importamos.

 

■ Por Richard Günter

Jornalista, pós-graduado em roteiro audiovisual e graduando de cinema

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